terça-feira, 17 de março de 2009

E a ficha cai?

Eu sempre tive horror a hospital, na verdade eu sempre tive horror a qualquer coisa que me impressionasse, e isso de fato não é dificil.
Quando eu era pequena, volta e meia ia passar férias na Fazenda da Liberdade com minha avó e meu pai. Me esbaldava, fazia tudo o que uma criança de cidade grande não tem como fazer. Subia em arvores, cuidava dos bichos, andava à cavalo, pegava frutas no pomar.... Era uma verdadeira colônia de ferias, a não ser por um primo que morava lá. Na verdade não sei mt bem o que ele era meu, tio, primo...sei que era o Tio Nelsinho.
O Tio Nelsinho era deficiente. Não sei o que ele tinha, mas ele não enxergava mto bem, não falava mt bem, emitia sons altos, apontava e era bastante comunicativo. Pra mim aquilo era sinônimo de terror e pânico. Não tinha absolutamente nada contra ele, pelo contrario, ele era mto querido, mto alegre e todos o cercavam sempre que ele estava por perto. Menos eu.
Eu não só não ficava perto, como eu fazia questão de ficar o mais afastada possivel, as vezes ate me esconder eu me escondia. Cansei de ficar embaixo da mesa esperando ele passar... Coitado!
Uma pena que a unica vez que eu consegui chegar perto dele, sentar no seu colo e dar um abraço, ele ja estava nos ultimos meses de vida.... Um beijo pra vc Tio Nelsinho, e desculpe.

O fato é que, qualquer coisa me impressiona. E hospital além de ser um lugar pessimo para se estar por qualquer motivo, ainda é mal-assombrado.
Ja tinha passado pela biópsia, e menos de 1 semana depois ja estava la para fazer a quadrantectomia. E mais mil exames que eu tive que fazer. Queriam ter certeza que o tumor estava apenas concentrado na mama esquerda, e para isso teriamos que fazer uma batelada de exames para saber se outras partes estavam tomadas. De inicio, fiz a cintilografia óssea, um
exame que vc entra em um tubo e te mapeam por todo o corpo, para ver se os ossos estão livres. Estavam!
Depois fiz raio X de torax e abdomen, livres!
Fia ultrasonografia pélvica e de abdomen, tudo ok!
Antes da cirurgia, injetaram um liquido azul na minha mama. Mais tarde isso iria definir os linfonodos sentinela, e ver se minha axila estaria comprometida.
Mais tarde, eu soube que da sala de cirurgia os medicos se comunicavam com meus pais e familiares que estavam esperando ansiosamente por noticias. E ela veio:
"Linfonodos livres!"
Ou seja, de fato, eu não tinha metástase en nenhum lugar, não estava com nenhuma parte da axila comprometida e o tumor ja havia sido extraído.

Ufa!

Depois de alguns dias, voltei para casa. Alias, me mudei para casa do meu pai. Ele não iria conseguir ficar em casas separadas, não conseguiria dormir, não conseguiria viver com a possibilidade de precisar de alguma coisa e ele não estar presente. Então, eu e Rodrigo nos mudamos pra la. De mala e cuia....e dreno.
Noites sem dormir, acordando de hora em hora para tomar remedio, dores, incômodo, pesadelos.... Uma agonia louca!

Acho que nesse periodo eu me anestesiei. Obviamente sofria pelas dores, pelos incomodos, mas era tão surreal o que estava acontecendo, que eu me fechei em uma concha. Tive momentos em que me questionei, em que questionei Deus ou qualquer coisa ou pessoa que estivesse me fazendo passar por isso.... Mas o ISSO, era um pouco indefinido ainda.
Não parava para pensar que eu tinha CÂNCER.


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