terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Ontem, hoje e sempre....

O post de hj é dedicado a minha querida amiga Fernanda Laidens.
Mulher do Rafa e mãe da Mari.
Depois de 7 meses fazendo tratamento para um linfoma, hj ela fez a ultima quimio....

Fê, nos encontramos em um momento bastante complicado para nos duas e para toda nossa familia. Na verdade eu ja estava bem mais adiantada que vc, e vc apenas começando...
Fico feliz de termos criado um laço, uma amizade, um amor e uma admiração mutua. Isso é de graça, pra sempre e sincero...

Fernanda se tratou na mesma clinica que eu, com o mesmo medico, com a mesma psicologa e com os mesmos enfermeiros....
Mas não é só isso que temos em comum...

Agora mesmo falávamos sobre a vida pos-tratamento.
Todo mundo deve imaginar como deve ser maravilhoso se ver livre dos medicos, da quimica, de sair dos cuidados intensivos... Devem imaginar que sentimeos uma onda de liberdade sem fim, que saimos pulando da sala de quimioterapia e que desejamos nunca mais ver nosso oncologista na vida....
Muito pelo contrario.
A insegurança bate mto mais forte, o medo do que vem a seguir nos apavora, sentimos vontade de morar na casa do medico, e ficamos perdidas por algum tempo...
Eu senti isso na pele, e acho que ela tbm pode sentir.
Ficamos sob cuidados medicos durante meses, fazendo exames de controle semanais, qualquer coisa diferente que sentimos temos que ligar para o medico e ele prontamente nos atende... Vamos a clinica toda a semana, estamos sendo monitorados quase que diariamente... Ficar sem ir ao banheiro é um motivo para ficarmos horas conversando com o medico ou com a nutricionista. Então, no meio de tanta coisa, nos sentimos seguros. A unica coisa que devemos fazer é ser fortes, pq o resto fazem pela gente.
E quando o tratamento acaba.....a vida recomeça.
De onde tinha parado antes.
Devemos retomar as rédeas da nossa vida sem esses cuidados extremos.
Quase como uma criança que se solta dos dedos da mãe para dar os primeiros passos sozinha...
E isso é mto dificil.... Não sabemos bem oq fazer, nem como, nem se devemos ou se é indicado. Nos sentimos "largados", nos sentimos medrosos, sozinhos....
Tudo isso que estou dizendo aqui é verdade, os medicos mesmos dizem isso, é normal....
Mas é duro.
Dificil, fingir que nada aconteceu com a gente é complicado...
Ou vivemos pensando em tudo oq aconteceu e continuamos vivendo a doença, ou tentamos voltar a uma vida normal, saudavel, sem doença alguma nos rondando.
Claro que optamos pela segunda opção, mas não é assim tão simples se desapegar...
Pq um dia estavamos bem, supostamente saudaveis, felizes e sem pensar que algo terrivel podia acontecer...e aconteceu. O medo de isso tudo acontecer novamente, é uma coisa real, mas que devemos saber driblar... Ou melhor, aprendemos a driblar.
E isso leva tempo, quem sabe ate nunca termine, temos mesmo que conviver com isso e aprender a trabalhar isso internamente... Quando descobrir isso, aviso a vcs.

O lance é, que eu e Fernanda estavamos convesando a respeito do mundo externo, pessoas, sentimentos... Como somos vistas pelas pessoas, como nos sentimos vistas pelos outros.
Engraçado, outro dia estava falando isso com um amigo...
Depois que vc vence uma batalha como essa, as pessoas tendem a te enxergar com outros olhos. Te julgam mais especiais, mais iluminada, mais querida, pessoas melhores... E muitas vezes isso tbm pode ser interpretado como PENA. E isso não é nada legal, mas muito comum.

Comigo foi tão engraçado...
Antes mesmo de eu saber que tinha câncer, bem antes, soube de alguns casos de meninas novas que tiveram. E por muitas vezes, tentei acha-las em sites de relacionamento, Orkut, etc. Aquilo me despertava uma curiosidade... Saber como tinha sido, ver fotos, saber se elas ainda falavam sobre o assunto, como se referiam aquele momento da vida delas. Mas sempre minha busca foi em vão. Cheguei ate a achar uma delas, mas nada sobre a doença era dito, nenhuma foto, nenhum comentario de amigas....nada.
E quando eu descobri que estava doente, lembrei tanto disso....Engraçado ne...
Pq eu me interessei tanto um dia por uma coisa que nem fazia parte da minha vida? Pq a curiosidade de ver o rosto daquelas pessoas que nem faziam parte de mim?
E por todas as vezes que procurei, tive o mesmo sentimento: queria saber como eram aquelas pessoas que me despertavam tanto orgulho. Queria saber como aquelas meninas tão corajosas, enfrentavam a vida depois da tempestade.

E acho que é assim que eu, e a Fernanda, queremos ser vistas: com orgulho.
Oq incomoda na real é o seguinte: não queremos ser mais queridas do que antes. Quem nos amava, continue nos amando da mesma forma. Para os que não gostavam da gente, não force uma amizade, apenas continue vendo os mesmos defeitos que tinhamos antes (ate pq certamente ainda os temos).
Não queremos ser SÓ especiais e queridas por tudo oq passamos. Queremos ser julgadas pessoas assim, pelas nossas qualidades, pelo sorriso que temos no rosto, pela nossa personalidade... E não pq somos vencedoras de uma batalha.
Não quero parecer ingrata, nem metida e nem nada do tipo, mas quero ser alguem igual a antes. Preciso ser....
Pq se me tratarem diferente, vou me sentir diferente, e vou constantemente lembrar o pq sou diferente.

Aos proximos, familiares e amigos: paciência.
Passar por uma luta dessas, exige mt força. E muitas vezes somos fortes pela familia.
Nem pensamos muito em nos mesmos, mas em segurar a onda dos outros...
Ate pq se eles desabarem, nossa esperança morre.
Então, qnd essa batalha termina, estamos cansados....Não queremos mais ser fortes, pela primeira vez depois de tanto tempo, podemos fraquejar, podemos nos dar ao luxo de chorar e de descansar.
Respeitem isso.

Infelizmente essa doença é uma praga.
Somos apenas duas pessoas que passamos por isso...Tenho tbm outros queridos amigos que tbm tiveram o mesmo problema...
Mas oq quero dizer, é que isso é um ciclo, que não se acaba.
Fernanda se despede hj (torço pra isso) de um tratamento que durou 7 meses, eu terminei ha 9 meses atras.... E entre o meu fim e o dela, outras varias pessoas começaram... E outros muitos ainda vão começar....
E temos que ir levando, seguindo em frente, e transmitindo energia positiva para todos os que pudermos...

Esse espaço que criei é pra isso.
Para os curiosos (como eu fui um dia), para os que precisam de ajuda, e para mim, que posso desabafar qnd preciso....

Mto, mto obrigada a todos.

LIVESTRONG!

9 comentários:

  1. Minha amiga querida,

    nosssa não pude me conter e falar que estou em lagrimas é pouco, estou em soluços sozinha na minha varanda (em sua homenagem-sei que vc ama varandas).

    É esatamente isso!

    Parece que tiramos um colete a prova de balas de nossas costas e nos permitimos sofrer um pouco.

    Não precisamos mais ser fortes nesse momento. Mas até o sofrimnto é diferente, é uma tristesa com medo de uma vida que parou e precisa retornar, misturada com a alegria de não ter mais que fazer quimios.

    Não queremos mais ser o centro das atenções pela doença, apenas queremos ser vistas pelo que somos e não pelo que passamos.

    Somos o que somos por 31 anos no meu caso, 29 anos no seu caso e não pelo que vivemos em 6, 7, 8, 9 meses.

    Precisamos retomar nossas vidas, como pessoas normais, como esposas normais, pois deixamos de ser esposas pelo periodo de tratamento e fomos apenas companheiras, na verdade tivemos companheiros ao nosso lado.

    Temos que rever muitas coisa, são duas da manha e não paro de pensar, na minha cabeça parece passar um livro da minha vida inteira em milesimos de segundos. Uma loucura!

    Mas o importante é que passou, agora nova fase, nova vida.

    Como diz um grande amigo meu, o Leo: "vida que segue"

    Beijos Le.

    Como já te disse vc é muito mais do que especial, é unica e indispensável.

    Te adoro.

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  2. Muito muito legal seu blog Le, ta de parabens!

    Sem palavras..

    Grande Bjo

    Dedé :)

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  3. Estou super emocionada com suas palavras.

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  4. Por isso que sempre te amei minha delicinha....vc continua igualzinha pra mim....uma querida....saudades de vc ....TE AMO bjoca da Dea

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  5. Muito massa seu blog, está nos meus favoritos!

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  6. Filha,
    Obrigada por vc existir!Obrigada por vc ser quem vc é. Vou repetir aqui o que disse desde a primeira vez que li o seu blog, aliás uma coisa que te disse muitas vezes na sua vida, e que vou continuar repetindo: vc é o meu maior orgulho! Quem olha para vcs com olhar de pena devem é estar projetando a sua pequenez!Vcs são guerreiras, que agora precisam descansar!Obrigada pela sua altivez, pela sua força, pela barra que vc segurou por nós, principalmente por mim e pelo seu pai. Me desculpe se às vezes fraquejei, me desculpe se às vezes exigi demais de vc, me desculpe se às vezes forço a barra para vc se manter sempre forte! Foi a forma que encontrei para ajudar e para sobreviver tb a tanto sofrimento. Não é fácil ver filho sofrer, principalmente este tipo de sofrimento. Se nós pais pudéssemos negociar com Deus, nos ofereceríamos no lugar de vcs nessa hora. Agora descanse, se dê o tempo necessário para se recuperar que eu estou aqui de vigília para o que vc precisar. Bjs. Te amo muito!
    Sua mãe

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  7. Letícia querida

    Vi seu comentário no meu blog e resolvi responder aqui.

    Acabei o tratamento. Peguei uma pneumonia logo depois.

    Mas juro que me esqueci que tive linfoma.

    Falta um pet scan ainda.

    Mas nem me lembro que estive doente.

    Agora falta o nosso jantar. Vamos?

    Marcamos próximo fim de semana? Martha vai amar.

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  8. Oi Amiga, lindas palavras como sempre...vc disse tudo e mais alguma coisa. Amo esse espaço e adoro vc. Amigaa, to super cabeluda, dia 10 agora completa 1 ano de minha mastectomia e Graças a Deus to aqui firme e forte.beijos. Gaby Maruska.

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  9. Oi Leticia...vi sua msg no meu facebook e entrei no link do seu blog que ja nao entrava ha muito tempo...engraçado...as pessoas tem reações muito diferentes umas das outras.

    No meu caso eu tive que fazer uma reuniao familiar e tb com alguns amigos porque eles estavam tao "cada um levando sua vida" que eu cheguei a me sentir sozinha...a resposta de todos foi "você esta levando tudo tão bem que não queriamos atrapalhar". Acho que a lição que fica é que, como sempre, o melhor caminho é sempre o do meio...nem de mais, nem de menos.

    Agora esta tudo melhor ( "no caminho do meio", hehe), mas é estranho porque realmente cada pessoa tem uma forma de lidar com as coisas. Muitas somem porque simplesmente não sabem como lidar com a situação, outras extrapolam nos cuidados...é assim mesmo. Talvez eu mesma nao soubesse como lidar se fosse com alguem que eu conhecesse. Muito provavel que nao soubesse!

    A grande verdade é que só quando a gente passa por alguma coisa é que sabe como lidar com aquilo...é a tal da "experiencia". Por isso mesmo eu resolvi escrever um livro ha alguns meses atras, não para pacientes de câncer, mas para pessoas que conhecem pacientes com câncer. Mas ainda estou no inicio, com certeza quando tiver algo mais palpavel vou querer tua opinião e de todas as amigas que vc fez que tb considero como minhas amigas de luta.

    Aliás, engraçado como parece que um mundo paralelo se abre, né...onde quem ja passou por esta experiencia tem um tipo de elo invisivel com o outro. "Amigas DE peito"...Bem, pelo mesnos eu sinto assim.

    Obrigada por compartilhar seus pensamentos conosco. Adorei conhece-la!

    beijão!

    Aline Figueira.

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